22.9.01

Lanceiros agora com selo de qualidade do mundo blogueiro: o lançamento do Lanceiro Livros é notícia hoje no badalado blog da Jackie Miller. Valeu, Jackie!

Ao som de Fortuna no sensacional Caelestia - ah, ela agora tem o seu próprio canal na Rádio UOL, não percam! - , despeço-me pro fim de semana: vou pra Sampa (coisa de carioca maluco, me dizem uns, mas quando a mulher da vida da gente trabalha em Sampa, qualquer sacrifício é pouco - e eu sou maluco mesmo, e daí? Eu gosto muito de São Paulo!)

Vou levando - como todo bibliófilo fanático - uns 5 livros na bagagem. Aguardem detalhes no Lanceiro Livros, e bom fim de semana!

21.9.01


Ainda Lanceiro Livros: obrigado à Mirela de Oliveira, Assessora de Comunicação da Editora Vozes, pelas palavras gentis e pelo apoio da editora. Aguardem em breve um comentário sobre o mais recente lançamento da casa, Na liberdade da solidão, de Thomas Merton.

Como bem sabe a minha fiel meia-dúzia de três ou quatro (ocasionais) leitores, os comentários literários não se restringem aos Lanceiros: acabei de emplacar mais uma matéria no Webinsider justamente sobre um livro fundamental para quem quer saber um pouco (eu diria um muito) mais sobre a História do Brasil e, de quebra, do jornalismo: uma coletânea de textos do Correio Braziliense, o primeiro jornal brasileiro, publicado por Hipólito José da Costa, que dá nome ao livro, cuja organização e edição ficaram sob o encargo do pesquisador Sergio Goes de Paula. O livro faz parte da coleção Formadores do Brasil, coordenada pelo competententíssimo Jorge Caldeira, biógrafo do nunca suficientemente citado Mauá - Empresário do Império. Confiram e comprem o livro, aliás, a coleção inteira: vale a pena.


O Lanceiro Livros abre suas portas. Boa leitura!

20.9.01

Lanceiro Livros: mais um blog na área



Aviso aos navegantes: acabo de criar uma seção de literatura deste weblog, a Lanceiro Livros. Reproduzo um pedacinho do primeiro post:

"Aqui você vai encontrar praticamente de tudo sobre literatura: notícias velhas e novas, críticas embasadas e resenhas embaçadas, e até mesmo uma ou outra entrevista inédita (já tem uma no forno, quero dizer, na fita, aguardando transcrição). Curiosidades e dicas sobre livros, livros e livros."

That´s it, folks. Já tem muito blog de música - e da melhor qualidade, diga-se de passagem. Pensei em dar uma contribuição pro time da literatura. Espero que gostem. Amanhã tem titio Carl Gustav, o velho Jung, dando o ar de sua graça por lá. Boas leituras!

Uma flor para as mulheres de Cabul



Minha mulher tem me repassado matérias de diversos sites sobre a situação dos afegãos sob o regime do Talibã (em tempo: os jornais deram para usar Taleban, que é a forma da língua inglesa; para a nossa língua, vale o que sempre foi usado, certo?). A página da Web cujo título reproduzi acima foi criada para o Dia Internacional da Mulher de 1998. Algumas das narrativas - da boca da próprias afegãs - já andaram correndo o mundo em várias listas de e-mails. Mas não custa ler de novo, porque nunca é demais lembrar.

A segunda, uma matéria da revista portuguesa Expresso (também de 98), descreve a punição em um estádio, perante 20 mil pessoas, de uma jovem afegã. A pena: 60 chicotadas por ter sido vista de mãos dadas com um homem que não era seu pai, nem tio nem esposo.

Para quem quer matérias mais recentes, o UOL é uma boa pedida, com duas matérias da Reuters: uma sobre a crise de alimentos que está se abatendo sobre o Afeganistão e a outra sobre o plano de emergência da ONU para os refugiados.

E para quem assina a Folha e quer ler uma matéria que jogue um pouco mais de esperança sobre o futuro (ainda que só no Brasil), recomendo a leitura de uma matéria sobre a Escola Islâmica Brasileira, na Zona Leste de São Paulo, que tem uma diretora batista e até alunos budistas. É bom saber que ainda resta uma esperança.

19.9.01


Em tempo:

Shaná Tová!

Abaixo o silêncio

Hoje recebi em duas listas um e-mail com o subject "silêncio". O autor da mensagem pede um minuto de silêncio para os mortos do atentado ao World Trade Center... e em seguida pede tantos outros minutos de silêncio para os mortos de todos os outros conflitos que vêm assolando o mundo nos últimos tempos.

O que poderia parecer à primeira vista uma declaração de solidariedade a outros povos está sendo recebido de forma assustadora nessas listas - muitas pessoas enviaram mensagens de apoio ao autor da mensagem dizendo que "agora os Estados Unidos vão aprender", "vamos parar de lamber as botas dos americanos", etc etc etc.

Existe muita desinformação nessa história - e um tanto de intolerância que beira o fascismo.

A mídia, ao contrário do que essas pessoas andam afirmando - e por pior que ela seja - não tem deixado de noticiar os conflitos no Oriente Médio, assim como não deixou de noticiar as atrocidades no Kosovo e nem na África. Ninguém em sã consciência pode deixar de se comover ou de se solidarizar com a dor desses povos.

Mas parece que o que falta é justamente sã consciência: mensagens como "silêncio" não pedem justiça - elas querem mais sangue. Elas querem guerra.

Vocês não conheceram a guerra, crianças. Não é brincadeirinha não. Se o pai da Cora (a quem tive a honra de conhecer no tempo da troca de cartas convencionais) fosse vivo, ele teria muito a dizer a respeito, infelizmente. Guerra é sofrimento, dor, morte. E mais nada.

18.9.01

Um pouco de poesia: a Daniela, da lista Palíndromo, acabou de postar um poema tremendamente profético de Drummond, do livro Rosa do Povo:

Elegia 1938

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as nações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.


Carlos Drummond de Andrade
Mais um texto lúcido, e de um historiador acima de qualquer suspeita: Eric Hobsbawn concedeu uma entrevista que saiu em O Globo de hoje, comentando - evidentemente - os atentados, o que está por trás deles e o que vem pela frente. Aqui vocês lêem o texto na íntegra, mas abaixo, um trecho relevante:

"(...)por que os Estados Unidos são hoje odiados com imensurável rancor não somente nos países árabes e islâmicos, mas em grande parte do mundo em desenvolvimento? A essas perguntas os Estados Unidos respondem com ponderações incipientes, dizendo que a liberdade e a democracia foram atacadas. A resposta não é tão simplista. A mim, pessoalmente, parece que alguém está tentando dizer ao presidente George Bush que sua política externa negligenciou as necessidades de grande parte dos países árabes e islâmicos, dos países em desenvolvimento; que nenhum país é hegemônico o suficiente para governar o mundo sozinho."

Precisa dizer mais?

17.9.01

Está meio difícil parar de falar nisso, portanto continuo: desta vez puxo a brasa para a minha sardinha, sem intenção de lucrar com a tragédia, mas quem sabe para apontar um caminho. Na semana passada algumas listas de discussão quase entraram em guerra antes dos EUA - e o que teve de mensagem intolerante foi difícil de engolir.

Há alguns meses, a leitura de um artigo recebido em uma newsletter - artigo esse que comparava tibetanos e palestinos num tremendo samba-do-crioulo-doido com muito pouca coisa de realmente coerente - me levou a escrever uma espécie de resposta. Ela foi publicada na revista eletrônica Nova-E, e gerou reações de todos os tipos - inclusive, óbvio, mais reações de intolerância.

Não foi essa a intenção. Acho que o diálogo ainda é a melhor solução. Tem quem ache que não, mas da minha parte a palavra só perde para um tipo de gesto - o gesto de amor. E se isso é piegas, pior para a pieguice.
Agora sim, estamos começando a ler textos mais lúcidos sobre aquela coisa toda, como diria o Hamilton Vaz Pereira: Amos Oz e Gerald Thomas estão aí com seus artigos que não me deixam mentir (quem diria que eu um dia acabaria concordando com o Gerald!). Abaixo um trecho do Gerald - a íntegra está aqui:

O impensável já começou o seu curso. Quanto lucro será feito com essa terrível tragédia? Será que o capitalismo vai ser solidário com os eventos ou tão impiedoso como na história? O aluguel vai triplicar? Ou será que amanhã (segunda) a bolsa de valores abrirá com uma versão extraordinária da expressão "business, as usual"? Será verdade mesmo que Bin Laden teria triplicado a apólice de seguros que mantém com uma firma em Munique, com relação ao investimento que ele possui nas torres que derrubou?
São tantas as versões que correm pelas ruas quanto o número de glóbulos que temos em nosso sangue. Quem imaginaria que, no cotidiano racista, os hispânicos dariam lugar para os árabes?
Os inimigos de ontem podem vir a ser nossos grandes aliados. Imaginem o orgulho de Bush filho se conseguir matar o "inimigo número um" que o Bush pai não conseguiu, há dez anos. Criados numa circunstância parecida de jogos de interesses políticos, Bin Laden, Saddam Hussein e a família Bush parecem estar lendo diretamente das páginas do "Anti-Édipo", de Deleuze e Guatari.
Quem imaginaria que o prefeito de Teerã mandaria um telegrama de solidariedade para o Giuliani?
Quem imaginaria o Giuliani como um herói da minha geração? Quem lucra com tudo isso? E quem pega carona com tudo isso?

16.9.01

Eu falava de filmes sobre guerra e esqueci do exemplo mais óbvio - e melhor - de todos: Dr Fantástico, de Stanley Kubrick. Uma tremenda interpretação de Peter Sellers (interpretações, aliás: o Dr. Strangelove e sua mão biônica assassina são uma piada à parte) e a melhor crítica à paranóia nuclear já feita pelo cinema. Nada mais americano que o desejo de bombardear o inimigo (vide a crise atual), e a cena do piloto cavalgando a bomba é a epítome disso - além de um tapa na cara dos americanos, sem luva de pelica. Deviam exibir esse filme na TV aberta americana agora - junto com The Day After.

Mas, falando em Kubrick: acabou de sair no Brasil um pacote de DVD com os clássicos do mestre, com oito filmes (Lolita, Laranja Mecânica, Barry Lyndon, 2001, Full Metal Jacket, o supracitado Dr. Strangelove, além de O Iluminado e Eyes Wide Shut mais um documentário de 2h e 20min, Stanley Kubrick: a Life in Pictures. Uma injustiça: faltam dois excelentes filmes nessa coleção, Glória Feita de Sangue e Spartacus - ambos com Kirk Douglas, por coincidência. Ou não, sei lá. Mas é uma pena: difícil dizer qual dos filmes de Kubrick é o melhor, mas Spartacus é um dos meu top five de todos os tempos (Casablanca é o primeirão, mas isto é história para outro post...)
"Me parece, Golan, que o avanço da civilização não é nada senão um exercício da limitação da privacidade."
- Isaac Asimov, Foundation´s Edge

Some-se o Grande Irmão de Orwell e a xenofobia que já está começando a se espalhar como uma epidemia pelos EUA e bem-vindos ao século XXI.
Para descansar um pouco a cabeça, um tanto quente devido ao excesso de trabalho e à angústia digital - porque acompanhar e filtrar todas as informações sobre a crise EUA-? não é mole, ainda bem que a gente tem blogs fundamentais como o da Cora pra dar um help - decidi pegar um filme na locadora. Cecil B. Demented, a última do John Waters. O sono era tanto que ainda não terminei de ver o danado: dormi no meio. Mas a julgar pelos primeiros quarenta minutos, o filme é muito engraçado, uma bela sacaneada no cinema hollywoodiano, com referências na maioria das vezes pra lá de explícitas a tudo quanto é cineasta americano, de Otto Preminger a Spike Lee, passando por William Castle e Sam Peckinpah.

A parte não muito engraçada - e que dá pra fazer pensar - é que a premissa é simplesmente uma ação terrorista engendrada por um bando de adolescentes com o propósito de seqüestrar a maior estrela americana do momento e fazê-la filmar (nem que seja na porrada) um filme udigrúdi classe Z. Claro, é uma comédia de John Waters: todo mundo apanha mas ninguém morre, porque a intenção é sacanear. Mas que não deixa de ser sintomático que até um dos cineastas mais anti-establishment dos anos 80 (porque agora já foi assimilado e, portanto, aceito por Hollywood) tenha, mesmo que como sátira, tocado na tecla do terrorismo e da insegurança.

Outra coisa tão interessante quanto foi um dos trailers contidos no VHS (desculpem, juro que até o fim do ano compro meu DVD): Thirteen Days. O filme teve uma passagem meteórica pelos cinemas e não me interessou, confesso, pelo nome de Kevin Costner nos créditos (tudo tem limite). Mas o tema, ah, agora o tema valeria a pena: a crise de mísseis de Cuba. Partindo-se do pressuposto de que o filme encara os fatos como aconteceram de verdade - e o Internet Movie DataBase já diz que, como sempre, a película é parte verdade, parte ficção - seria interessante para entender o que o governo Bush deve estar sentindo agora na pele. E torcer para que acabe como acabou a crise de Cuba - sem guerra.