Como um conta-gotas, vou voltando aos poucos, porque o material é muito e pouco é o tempo. Posto a seguir, na íntegra, um e-mail muito especial que recebi na semana passada por intermédio de uma amiga:
São Paulo, 2 de outubro de 2001
CAROS AMIGOS;
Pode parecer estranho mas isto é um pedido de ajuda. Para mim. Aos 59 anos me encontro numa situação financeira extremamente difícil. Não estive parado todo esse tempo. Trabalho sem parar.
Ano passado, no final de outubro, fui procurado por uma professora do MAE, Museu de Arqueologia e Etnologia da USP e convidado por sua diretora para conceber e realizar uma exposição denominada BRASIL - 50.000 ANOS que, pelo contrato assinado por mim e pela dita diretora, deveria ter sido inaugurada dia 20 de março de 2001, em Brasília, no Superior Tribunal de Justiça. Fui, portanto, contatado em final de outubro de 2000, não aceitei nenhum trabalho a partir do início de novembro e utilizei esse período para realizar pesquisas de materiais, estudos, compra de livros, visita a um sítio arqueológico, reuniões e assistência a palestras de pesquisadores do referido museu.
O contrato foi assinado apenas dia 21 de dezembro e a primeira parcela foi paga com 35 dias de atraso. Em um texto que estou anexando a esta mensagem está bem descrita a forma de pagamento que foi efetuada. Breve estarei pondo em circulação um site com tudo que realmente aconteceu. Esse projeto foi inaugurado em versão simplificada no mesmo Superior Tribunal de Justiça no dia 3 de setembro último.
Já me perguntaram:
1 – POR QUE O CONTRATO FOI ASSINADO TÃO TARDE ?
2 – POR QUE VOCÊ NÃO PAROU NA OCASIÃO DO ATRASO DO PAGAMENTO DA PRIMEIRA PARCELA UMA VEZ QUE SEU CONTRATO ?
Respondo:
PORQUE SOU INFANTILMENTE AVESSO A COISAS PRÁTICAS E ME ENTUSIASMO FÁCIL COM CERTOS PROJETOS. EU GOSTAVA MUITO DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA, COMO MUITA GENTE.
FAZER ESSA MOSTRA PARECIA BRASILEIRAMENTE IMPORTANTE.
Quem leu a mensagem até aqui, por favor, tenha paciência e leia mais um pouquinho.
1 – Vendi um quarto de meu apartamento a um amigo. Mais ou menos 35.000 reais.
2 – Devo a colaboradores que não puderam ser pagos porque não recebi o que me devem.
3 – Devo 7 meses a minha analista que tem tido compreensão e paciência.
4 – Devo 7.500 reais ao Cartão Visa.
5 – Devo por volta de 10.000 reais ao RealMaster e ao Real parcelado.
6 – Tenho que pagar 7.000 à advogada que contratei para mover uma ação judicial contra a AMAE (Associação de Amigos do Museu de Arqueologia e Etnologia). O Fórum de São Paulo está em greve há meses. Com muita boa vontade, em 7 anos receberei com certeza o que me devem. Tenho quase 60 anos.
7 – Trabalhei quase inutilmente para vários projetos este ano; todos dependiam das leis de incentivo à cultura; muitos foram adiados ou cancelados e eu fiquei a ver navios.
Meu apartamento contém livros, cds, mobiliário básico - nada realmente vendável.
Só posso vender meu talento e é isso que pretendo oferecer.
Vou fazer desenhos e vendê-los: R$ 60 cada.
Papéis, lápis, aquarelas, guaches, crayons da melhor qualidade.
Peço-lhes um favor: passem esta mensagem para o maior número de pessoas que puderem. Peçam que a repassem para todos que constam de suas agendas.
Muito obrigado pela atenção e um grande abraço
Naum Alves de Souza
Para quem não sabe, o Naum, junto com o Alcione Araújo, é um dos maiores dramaturgos brasileiros vivos. É terrível que um homem que nos deu, entre outras coisas, as maravilhosas peças Um Beijo, Um Abraço, Um Aperto de Mão e A Aurora da Minha Vida, esteja passando por uma situação dessas por INCOMPETÊNCIA e DESCASO do nosso governo.
Eu já estou entrando em contato com ele para comprar seus desenhos (além de autor, o Naum é um dos maiores cenógrafos e artistas plásticos que o teatro já conheceu no Brasil, os desenhos não são de brincadeira não). O e-mail dele é naumm@terra.com.br. Vamos parar de reclamar da vida e ajudar a quem precisa?