20.3.02

Chega de indefinição que a hora é essa! Pois é, as eleições estão aí, não adianta reclamar. O voto é obrigatório, e - por mais paradoxal que pareça - se você quer que (entre outras coisas) ele deixe de ser obrigatório, a única solução neste momento é votar. Mas eu posso votar nulo, alguns de vocês dirão. Pode.


Mas vocês terão de assumir que essa pretensa neutralidade não simboliza uma revolta contra o sistema vigente, mas o medo de tentar mudar alguma coisa de fato. O voto nulo simplesmente perpetua o status quo atual.


Eu já votei nulo, confesso. Achava que, se um número suficientemente grande de pessoas votasse nulo, os governantes perceberiam que há algo de podre no reino da terra brasilis - e as coisas poderiam começar a mudar.


Se isso acontecesse, seria ótimo. Mas não foi o caso então. Aliás, não foi o caso em momento algum da História do Brasil. O número de votos nulos não faz diferença para a direita - que foi quem sempre levou a melhor até agora, pelo menos em termos de Presidência da República.


E me arrisco a dizer que vai continuar levando a melhor. E nós, levando vocês-sabem-o-quê vocês sabem onde.


A esquerda é cheia de contradições, mas só há uma maneira de saber se um governo de esquerda, com todos os seus defeitos, sobreviveria a essas contradições internas: votando nele para conferir.


Este discurso vem por conta de uma série de leituras que venho fazendo nos últimos tempos, para tentar entender um pouco melhor a situação do Brasil e do Terceiro Mundo. Uma dessas leituras me caiu em mãos hoje: trata-se de Gênese e Estrutura de O Capital de Karl Marx, de Roman Rosdolsky. Publicado originalmente em 1967, este livro é fruto de uma pesquisa que o teórico Rosdolsky empreendeu ao longo de mais de vinte anos para dissecar o método utilizado por Marx para escrever seus textos sobre economia - em particular O Capital. Encontrei em Rosdolsky um eco a algo que venho dizendo há anos: existem alguns nomes fundamentais da História da Humanidade nos últimos 150 anos que ainda não foram suficientemente digeridos pelas pessoas, e mesmo os grupos fechados que os lêem e analisam constantemente parecem não tê-los entendido suficientemente para além de uma visão estreita, que os mantém enclausurados em suas tribos, apartados de qualquer discussão com os leigos. Eu me referia basicamente a Freud, Joyce e Marx (às vezes acho que Stanislavski também entra na lista, mas há controvérsias). No caso deste livro, as primeiras páginas já estão me dando muito prazer, por resgatarem uma figura fundamental para a compreensão de nossa sociedade que, hoje, mais do que nunca, é regida pelo desejo ensandecido de lucro. O resto, para eles, é apenas som e fúria, como diria Shakespeare. E nós que agüentemos.


Obrigado ao Ildeu e ao César Benjamin, da Editora Contraponto, pela oportunidade de ler essa análise fundamental de Marx.

19.3.02

E quem toma conta do loja? Um artigo indicado pela sempre atenta Cora Rónai que é preciso ler sem demora: Internet: Quem Governa a Infra-Estrutura? Escrito por Carlos Alberto Afonso para ser publicado na Fundação Friedrich Ebert, o artigo pode ser baixado gratuitamente a partir do site da Rits - Rede de Informações Para o Terceiro Setor, aqui. Afonso, um dos fundadores do Ibase, fala sobre a gestão da Internet lá fora, que é bastante dinâmica, apesar de seus problemas, e aqui no Brasil, onde a flexibilidade é maior, apesar da burocracia... mas falta transparência de organismos reguladores, como o Comitê Gestor. É por isso que eu volta e meia digo (para a chateação de colegas blogueiros queridos como a própria Cora e o Hernani Dimantas, editor do ótimo Marketing Hacker) que a Internet não é tão bonita nem tão revolucionária quanto se pinta. Ou, por outra, é sim, claro: mas hay que se hacer algo con ella, e não ficar apenas falando, falando, falando, coisa que a maioria dos internautas parece ter um prazer requintado em fazer. Evidente que Cora e Hernani não fazem parte desse grupo, pelo contrário. A eles, minha mais sincera admiração, e um forte abraço.
Ah... Retirei o sistema de comentários. Desculpem os amigos, mas minha paciência para ficar pulando de sistema em sistema simplesmente è finita. Querendo, sejam bem-vindos para me mandar e-mails, que eu respondo. Mas comments, Never More, Lenore!, como dizia o corvo.
The Revolution Will be Webified. Este é o título da entrevista concedida por Mr. Evan Williams, criador do Blogger, para a revista Fast Company, uma das mais prestigiadas publicações do mundo sobre economia digital. Toda esta última edição, aliás, é um verdadeiro elogio aos blogs: são cinco grandes matérias tratando os blogs como eles merecem: com seriedade. As publicações brasileiras bem que poderiam se espelhar na Fast Company, ao invés de ainda tratar blogs como diários de adolescentes. Já está mais do que na hora.